sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Dicas de Saúde Vocal nº 1

Olá, leitores do Curupaco!

Meu nome é Luciana Oliveira, sou fonoaudióloga e atendo com exclusividade os professores e alunos de canto do Voz Plena. Fui convidada para escrever semanalmente, aqui no Curupaco, sobre a importância do acompanhamento de um fonoaudiólogo no processo do aprendizado do canto e, principalmente, no que se refere aos cuidados vocais que os cantores devem tomar.

Acredito que a maioria dos profissionais da voz, já ouviram falar em Saúde Vocal. Conversando com algumas dessas pessoas, notei que há uma mitificação em torno desse tema, pois, muitos pensam que cuidar da saúde vocal é muito difícil, outros imaginam que são regras impossíveis de serem obedecidas, mas, pensar assim é um grande equívoco...

Entendemos Saúde Vocal como algo além de meras regras, mas um compromisso com a voz plena de cada indivíduo. Preocupados com a saúde vocal e pensando em tornar comum esse conceito, vimos a necessidade de desenvolver o projeto “Dicas de Saúde Vocal”.

São ao todo sete volumes, com três dicas cada um. Como fonoaudióloga, tenho o prazer de estimulá-los a cuidar de sua voz e, semanalmente, farei comentários sobre estas dicas.

Fiquem à vontade para tirar suas dúvidas, comentando no campo "vocalizações", ao fim desta postagem.


Nº 1- Beba água. Nosso corpo precisa de água e pregas vocais desidratadas não vibram bem. O ideal é tomar pequenos goles ao longo do dia.


Na realidade, pregas vocais secas simplesmente não vibram. Vale à pena lembrar que nada que comemos ou bebemos passa diretamente pela laringe, mas se nosso corpo não está hidratado a fonação fica prejudicada. A matéria prima da voz é o ar, mas se as pregas vocais não estão devidamente umidecidas, há um desajuste na vibração que resulta em esforço indesejado. Imagine a sua boca quando está seca. A dicção não fica desconfortável? O mesmo acontece na nossa laringe, portanto... hidrate-se!


Nº 2 - Aqueça e desaqueça a voz. Tão importante quanto o aquecimento vocal é o seu desaquecimento após uso intensivo. O desaquecimento é útil para que se volte aos ajustes motores da fala.


Todo atleta se alonga e se aquece antes e depois de suas atividades, não é? Por que o cantor não precisaria? As pregas vocais que contêm músculos delicados, e sendo assim precisam ser aquecidas e desaquecidas. O aquecimento vocal deve sempre começar com suavidade e o volume e altura devem ser aumentados progressivamente.

Os mesmos exercícios que usamos para aquecer a voz, podemos usar para desaquecê-la. O desaquecimento tem o objetivo de relaxar, diminuir a atividade, por isso fazemos tudo em escalas descendentes e com leveza. Alguns cantores relatam que a voz fica estranha depois de um ensaio ou de uma apresentação. Isso se deve ao fato de que cantamos em freqüências muito mais altas que as da fala habitual, principalmente quando se trata de cantores líricos. Por isso, depois de termos cantado por longo tempo, devemos ajustar nosso trato vocal para falar novamente.


Nº 3 - Fuja da competição sonora. Evite um volume de voz alto na conversação diária. Na fala, priorize a dicção e não o volume da voz.


Um dos maiores inimigos da nossa saúde vocal é a sobrecarga e falar alto é um abuso vocal muito comum. No dia a dia, use um volume de voz suficiente para ser ouvido. É comum falarmos alto por hábito familiar. Procure se ouvir sempre para conseguir perceber quando está exagerando. Não fale "no automático".

Priorizar a dicção não é articular as palavras artificialmente. É principalmente manter o espaço faringeo amplo como ao dizer um "Ah!" pazeroso, como um suspiro. Quanto menos travada é a nossa articulação, mais fluida tende a ser a nossa voz.

Cuide de sua voz com respeito. Ela mostra quem você é.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

O Segredo é a Simplicidade


Um dos melhores cantores que conheço é o Jucão.

Ele é mais alto que eu, deve ter uns 1,90 para mais, e é também mais "forte". Muito cabelo pela cabeça e pelo rosto, marca inconfundível de quem vive a vida com liberdade e está sempre de bem com tudo (fora o fato de que nunca uma arara ousou pousar no seu ombro). A voz acompanha seu estilo. A boca, enorme, emite sons absolutamente livres de preconceitos estéticos, artísticos e técnicos. A técnica, correta, e a expressividade apaixonada, tornam seu canto arte pura. Por isso, a melhor definição para o Jucão é a liberdade de ser ele mesmo. Mas, bom mesmo é poder aprender com gente assim.

No dia-a-dia do professor de canto, somos constantemente desafiados a procurar uma forma de amenizar para nossos alunos a aridez da informação técnica, das exigências de adequações ao estilo musical, postura física, desenvolvimento da linguagem profissional e dos relacionamentos profissionais e pessoais com nossos alunos, dentre diversas outras coisas. Por isso, a simplicidade é sempre uma aliada do professor. Qualquer um que venha valorizar o processo do aprendizado do canto com o olhar da simplicidade irá se impressionar ao ver como ela pode contribuir com o desenvolvimento dos alunos e cantores, de uma forma geral.

Um bom caso que ilustra isso é o telefonema que recebi de um grande amigo de Belo Horizonte. Ele me descreveu, empolgado, sua mais nova descoberta vocal, tão relacionada com o nosso tema: "Leozim, cê nem imagina, rapaz, que depois de passar uma semana inteira aí no Rio de Janeiro com você e a Mirna, aprendendo sobre técnica vocal e tudo o mais, foi somente outro dia que a ficha caiu" (dentre as várias instruções que demos a ele, a mais veemente era sobre a uma certa tensão que existia nos lábios e mandíbula na hora de cantar, ao que aconselhávamos: "Solta a boca, solta a boca").

No seu relato, dizia que um dia, observando um cantor numa roda de violão durante um almoço de família, percebeu: "A boca dele, é completamente solta prá cantar. Eles tinham razão com aquele negócio de boca solta, isso pode melhorar minha voz também, será?". Cantando junto, meio que "copiando" a atitude da recém-descoberta "boca solta", pôde perceber alguns resultados, obtendo consequentemente mais prazer com aquilo.

O fim desta cantoria trouxe consigo uma surpresa: um elogio do cantor que ele copiava e que vinha a ser simplesmente o Jucão, ao que, prontamente, meu amigo retribuiu: "Obrigado, pai".