segunda-feira, 29 de outubro de 2007

O Segredo é a Simplicidade


Um dos melhores cantores que conheço é o Jucão.

Ele é mais alto que eu, deve ter uns 1,90 para mais, e é também mais "forte". Muito cabelo pela cabeça e pelo rosto, marca inconfundível de quem vive a vida com liberdade e está sempre de bem com tudo (fora o fato de que nunca uma arara ousou pousar no seu ombro). A voz acompanha seu estilo. A boca, enorme, emite sons absolutamente livres de preconceitos estéticos, artísticos e técnicos. A técnica, correta, e a expressividade apaixonada, tornam seu canto arte pura. Por isso, a melhor definição para o Jucão é a liberdade de ser ele mesmo. Mas, bom mesmo é poder aprender com gente assim.

No dia-a-dia do professor de canto, somos constantemente desafiados a procurar uma forma de amenizar para nossos alunos a aridez da informação técnica, das exigências de adequações ao estilo musical, postura física, desenvolvimento da linguagem profissional e dos relacionamentos profissionais e pessoais com nossos alunos, dentre diversas outras coisas. Por isso, a simplicidade é sempre uma aliada do professor. Qualquer um que venha valorizar o processo do aprendizado do canto com o olhar da simplicidade irá se impressionar ao ver como ela pode contribuir com o desenvolvimento dos alunos e cantores, de uma forma geral.

Um bom caso que ilustra isso é o telefonema que recebi de um grande amigo de Belo Horizonte. Ele me descreveu, empolgado, sua mais nova descoberta vocal, tão relacionada com o nosso tema: "Leozim, cê nem imagina, rapaz, que depois de passar uma semana inteira aí no Rio de Janeiro com você e a Mirna, aprendendo sobre técnica vocal e tudo o mais, foi somente outro dia que a ficha caiu" (dentre as várias instruções que demos a ele, a mais veemente era sobre a uma certa tensão que existia nos lábios e mandíbula na hora de cantar, ao que aconselhávamos: "Solta a boca, solta a boca").

No seu relato, dizia que um dia, observando um cantor numa roda de violão durante um almoço de família, percebeu: "A boca dele, é completamente solta prá cantar. Eles tinham razão com aquele negócio de boca solta, isso pode melhorar minha voz também, será?". Cantando junto, meio que "copiando" a atitude da recém-descoberta "boca solta", pôde perceber alguns resultados, obtendo consequentemente mais prazer com aquilo.

O fim desta cantoria trouxe consigo uma surpresa: um elogio do cantor que ele copiava e que vinha a ser simplesmente o Jucão, ao que, prontamente, meu amigo retribuiu: "Obrigado, pai".

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