quarta-feira, 14 de maio de 2008

Um Brasileiro na Broadway

A seguir, duas notícias publicadas pelo jornal O Globo sobre Paulo Szot, cantor lírico brasileiro com carreira internacional, indicado recentemente ao Tony de melhor ator de musical na Broadway. Um feito e tanto não só para brasileiros desta arte, mas para qualquer estrangeiro atuante na "terra dos musicais".

O Globo, 14 de maio de 2008

O barítono brasileiro Paulo Szot recebeu ontem uma indicação para o prêmio Tony de melhor ator num musical na temporada 2007/2008 da Broadway. O Tony é o mais importante prêmio do teatro americano, e Szot ganhou a indicação por seu desempenho em “South Pacific”, remontagem do musical de Rodgers e Hammerstein, atualmente em cartaz no Teatro Vivian Beaumont, no Lincoln Center, em Nova York.


Szot já ganhou prêmio nesta temporada

Szot concorre com Daniel Evans, de “Sunday in the park with George”; Lin-Manuel Miranda, de “In the Heights” — a peça recordista de indicações —, Stew, de “Passing strange”; e Tom Wopat, de “A catered affair”. O brasileiro já ganhou um dos principais prêmios da temporada. Foi eleito o melhor do ano pelo Outer Critics Circle. O musical “Souh Pacific” recebeu ao todo 11 indicações (além da indicação de Szot, é candidato a melhor ator coadjuvante em musical — Danny Burstein; melhor atriz coadjuvante em musical — Loretta Ables Sayre; e melhor diretor de musical — Bartlett Sher; entre outros). Mas o recordista da temporada é “In the Heights”, um musical que começou sua carreira off-Broadawey, foi transferido para a Broadway no começo do ano e concorre a 13 Tonys.

“Sunday in the park with George”, remontagem de sucesso de Stephen Sondheim, ganhou nove indicações. Sondheim, por sinal, receberá este ano um Tony especial pelo conjunto da obra. Entre os esquecidos desta temporada está Kevin Kline, que era favorito para receber uma indicação por “Cyrano de Bergerac”.

Paulo Szot é paulista, tem 38 anos e costuma se apresentar nas temporadas líricas do Rio, de São Paulo e de Manaus. Estreou na Broadway em abril. Tem agendada sua participação, para o segundo semestre, numa montagem de “Sansão e Dalila” do Teatro Municipal de São Paulo. A 62º festa de entrega do Tony será realizada no dia 15 de junho no Radio City Music Hall e terá a apresentação de Whoopi Goldberg.

O Globo, 15 de maio de 2008
Por Eduardo Franklin

Um barítono aquecido pela Broadway.

Brasileiro que disputa Tony acha público de musical mais caloroso que o de ópera.

Os elogios publicados nas páginas de importantes jornais americanos ao barítono paulistano Paulo Szot, que desde abril estrela o musical “South Pacific” na Broadway, agora dão lugar a indicações a prêmios. Um, ele já levou. Foi o Outer Critics Circle Award. Anteontem, Szot foi indicado ao quarto prêmio, o Tony, o Oscar do teatro americano. O resultado sai dia 15 de junho. Renomado cantor de ópera, ele não coleciona troféus, como se poderia imaginar.

— No mundo da ópera, premiação não é uma coisa comum. No Brasil, tem o prêmio Carlos Gomes, que eu ganhei em 2000, e existe também o APCA (prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte), para o qual nunca fui indicado. O mundo das premiações é novo para mim — diz ele, por telefone. Outra novidade é a reação dos espectadores. — Musical tem outro público. É muito mais caloroso que o da ópera. Cada dia fica mais difícil chegar em casa (risos).

As pessoas me param para expressar o que acharam do musical. Na ópera, nunca tive um contato tão direto com o público. Outra coisa interessante é poder me aproximar de ícones, como outro dia, quando conheci o estilista Valentino na inauguração de uma exposição, e ele me convidou para seu aniversário e depois para um almoço — conta Szot, que, devido ao sucesso de “South Pacific” teve de cancelar sua participação em duas óperas no Brasil no fim deste ano, “Sansão e Dalila”, em São Paulo, e “La Bohème”, no Rio.

Ele confirma a possibilidade de atuar em novos musicais: — Abri uma porta que não quero mais fechar. Acrescentei muita experiência à minha carreira com este musical. O contato com diretores de teatro e atores na Broadway foi muito importante para mim. O meu lado de ator ganhou com isso.

Como cantor de ópera, não tenho contato com atores de verdade. Na minha formação, a arte do canto foi muito valorizada, mas a da atuação, não. A rotina na Broadway não é fácil, garante o barítono: — O que cansa é fazer oito shows por semana. Só temos folgas às segundas-feiras. Quartas e sábados são dias em que fazemos duas apresentações. É cansativo fisicamente, mas não para a voz. Agora já estou me acostumando. Está ficando mais fácil.

Um dos concorrentes que ele venceu na premiação do Outer Critics Circle foi Daniel Evans, que atua em “Sunday in the park with George” e também foi indicado ao Tony. — Consegui ver “Sunday in the park” antes de “South Pacific” estrear e achei maravilhoso. Meus concorrentes são todos maravilhosos. Fico feliz e surpreso com esse reconhecimento.

A indicação para o Tony é uma coisa impressionante, que eu nunca achei que poderia acontecer comigo, um estreante. Tento não pensar muito nisso, para manter os pés no chão e continuar a fazer meu trabalho, senão fico maluco — exclama o cantor.